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PAT ROBERTSON DIZ Q. HAITI FOI AMALDIÇOADO

PAT ROBERTSON DIZ Q. HAITI FOI AMALDIÇOADO


 


 

 
Peço desculpas antecipadas por comentar uma declaração tão inoportuna e estúpida, mas o site norteamericano The Huffington Post informa que o televangelista Pat Robertson disse hoje que o Haiti foi amaldiçoado por ter feito um pacto com o diabo para conseguir a independência da França. Robertson é o fundador da rede evangélica de TV CBN (Christian Broadcasting Network) e apresentador do programa Clube 700 nos EUA (que também tem sua versão brasileira exibida pela Rede Gospel e outras emissoras isoladas). Foi pré-candidato republicano à Presidência dos EUA em 1988. É tristemente famoso também por suas declarações polêmicas como a sugestão (em 2005) de que Hugo Chávez fosse assassinado e que o AVC (acidente vascular cerebral) do premiê israelense Ariel Sharon em 2006 foi um castigo de Deus. Curiosamente, também esteve envolvido numa controvérsia sobre corridas de cavalo em 2002.
Pois é este expoente do conservadorismo evangélico norte-americano que vem a público num momento trágico como este, quando os milhares de corpos empilhados nas ruas de Porto Príncipe sequer esfriaram, dizer uma asneira como essa. Revela, primeiro, não ter uma palavra de conforto apropriada para o momento, algo que se esperaria de alguém que se diz líder cristão. Segundo, prefere o discurso tosco ao invés de simplesmente agir. Se a idade não lhe permite mais viajar a uma zona de desastre natural, que pelo menos animasse seus seguidores a fazê-lo ou investisse seus recursos em ajuda humanitária. Terceiro, até onde sabemos, Deus não passou uma procuração para Pat Robertson falar (e julgar) em Seu santo nome. Quarto, Robertson revela um profundo desconhecimento histórico a respeito da independência do Haiti, iniciada logo após a Revolução Francesa (1789), quando um escravo negro, Toussaint L'Ouverture, liderou a maior revolução de escravos de que se tem notícia nas Américas, que foi brutalmente reprimida pelas tropas de Napoleão em 1802 (na sua declaração, Robertson chega a confundi-lo com Napoleão III, que governaria a França a partir de 1848). Tudo isto não evitou a independência que viria a ocorrer em 1804, mas que consumiria tanto a população como os recursos do país, colocando-o numa instabilidade política e econômica que dura até os dias atuais. Entretanto, a independência do Haiti é motivo de orgulho para os países da América Latina, por ter sido o primeiro país da região a ter se tornado independente (o 2º das Américas depois dos EUA), e ter imposto uma vergonhosa derrota às tropas de Napoleão antes dos ingleses em Waterloo. A seguir o raciocínio bizarro do telepastor desinformado, teríamos que deduzir também que os ingleses fizeram algum tipo de pacto com o diabo para derrotar Napoleão.
Pelo jeito, a promiscuidade entre igreja, política e televisão, além de explosiva, provoca diarréia cerebral. O senhor Pat Robertson perdeu, portanto, (mais) uma excelente oportunidade de ficar calado. Para os que não crêem, entretanto, ele fala em nome dos evangélicos ao se apresentar como "pastor". Enquanto alguns tecem lindas palavras para tentar localizar - com GPS, mas em vão - o tal "centro da vontade de Deus", outros estão no epicentro da dor que clama por Ele. Não deixa de ser um melancólico contraponto a uma mulher - brasileira e católica - como Zilda Arns, que não estava longe nem se refugiou em discursos estúpidos e juízos irresponsáveis, mas estava lá em carne e osso para ajudar a minorar o sofrimento e a miséria do povo haitiano. Algumas mortes trágicas têm o condão de serem muito mais dignas e cristãs do que pretensas lideranças evangélicas, que parecem conhecer a Deus tanto quanto conhecem o Haiti.