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A VERDADE SOBRE AS PRIMICIA§..DO SEU BOLSO CLARO!

A VERDADE SOBRE AS PRIMICIA§..DO SEU BOLSO CLARO!

 

 

     Nos últimos anos observamos uma judaização do cristianismo, chegando ao ponto de existir uma bandeira de Israel em algumas igrejas. Muitas pessoas que se dizem fiéis à Palavra de Deus retrocederam na fé, negando o sacrifício de Cristo e adotando práticas judaicas (muitas delas, não realizadas nem mesmo pelos judeus atuais). Além do dízimo, que já foi discutido em outro texto, a moda do século 21 é a cobrança das Primícias. Mas será que há respaldo bíblico para essa oferta? A resposta é simples e direta: Não! Faremos um estudo do Velho e do Novo Testamento para mostrar que essa é apenas mais uma das doutrinas dos “comerciantes da fé”.
     “Primícias” tem um significado de “princípio” ou de “parte inicial” de algo, seja o que for. Porém, o que é pregado nas igrejas que seguem essa doutrina é que Deus exige as primícias de nossos bens materiais (o que é coerente com as teologias modernas, como a da prosperidade), enquanto a nossa vida espiritual fica em segundo plano. Assim, realizam “culto das primícias”, cantam músicas com esse tema, como a famosa “Tuas primícias”, de Regis Danese, tudo para incentivar os fiéis a “abrirem o bolso”. Nessas ocasiões os fiéis devem entregar no templo uma quantia equivalente a um dia de trabalho, ou seja, quem ganha mil reais por mês, leva pouco mais de 33 reais, dinheiro que fica para a igreja ou, em alguns lugares, é dado para o pastor, como um tipo de salário. O argumento que utilizam para este último caso é que devemos repartir nossos bens com aquele que nos instrui (Gálatas 6:6). Procurando no dicionário, encontramos a definição de “repartir”: “fazer em partes, dando a cada pessoa o que, por direito ou justiça, lhe pertence”. Pois bem, imagine uma igreja com 500 pessoas que recebem mil reais ao mês. Se cada uma der 33 reais (o valor das Primícias) ao pastor, ele ficará com o bolso cheio (16,5 mil reais ao mês), enquanto os fiéis teriam que sobreviver com 967 (valor superestimado, pois não estão inclusos os dízimos e as “n” ofertas pedidas). 
     O “repartir”, ensinado por Paulo, não visava à mordomia, nem à riqueza e tinha objetivos claros: para que ninguém (também vale para aqueles que nos instruem na fé) tivesse necessidade de nada (Atos 11:29; 24:17 e Romanos 15:26) e para que os irmãos vivessem em igualdade (essa é a idéia desde a instituição dos dízimos, pois as tribos de Israel ficavam com aproximadamente a mesma quantia de alimentos, sem que nenhuma fizesse muito “sacrifício” para contribuir). No exemplo dado no parágrafo anterior, se cada um contribuir com 5 reais (o que não faria falta a essas pessoas) para o sustento de seu líder religioso (afinal digno é o trabalhador do seu salário - Lucas 10:7 e I Coríntios 9:14), haverá um pagamento digno a ele (estando de acordo com I Timóteo 5:17-18). Mas lembre-se: a “dupla honra”, citada na carta a Timóteo, é um reconhecimento por parte dos irmãos e não, uma imposição. Se foi Deus quem colocou uma pessoa para trabalhar em Sua obra, não tem por que esse indivíduo temer ou cobrar o seu sustento, pois o Senhor sempre cuida dos Seus. Porém, se está à frente de um rebanho devido a amizade ou a parentesco com X ou Y, terá que tomar cuidado para não passar fome mesmo, pois Deus não trabalha dessa forma.
      Há ainda outro texto utilizado para afirmar que as primícias devem ser usufruídas pelo pastor, que está em
Ezequiel 44:30. Nele, o profeta afirma que a primeira porção das ofertas (inclusive das primícias) seria destinada aos sacerdotes. Isso não era nada novo, pois em Levítico 23:10 já existia essa ordem. O profeta Ezequiel teve um importante papel nas reformas de Israel após a queda de Jerusalém, em 587 a.C. Lutou com todas as suas forças para reconstruir o judaísmo, ensinando o povo a adorar a Deus da forma correta, para que todo aquele mal não voltasse a assolá-los. Vale destacar que Ezequiel não trabalhava na criação de regras para os israelitas e sim, na recuperação delas, pois haviam sido “esquecidas” com o tempo. Mas, voltando ao assunto, afirmar que os líderes religiosos atuais são esses sacerdotes é inaceitável! Se lermos I Pedro 2:9, veremos que todos nós somos sacerdotes (segundo a ordem de Melquisedeque e não, de Levi, como ocorria com os israelitas) e Cristo é o sumo sacerdote (Hebreus 6:20). 
     Talvez o leitor, mesmo concordando que as primícias não são para os pastores ou afins, esteja ainda com uma dúvida em mente: “Então são ofertas destinadas ao templo?” Para esclarecermos, vejamos o contexto histórico e social do povo hebreu:
      Havia sete festas anuais entre os hebreus, sendo que eram três as festas agrícolas principais, que foram celebradas a partir da entrada em Canaã: a Festa dos Asmos (era uma parte da Páscoa judaica), na primavera; a Festa das Primícias, das Semanas ou de Pentecostes, que durava 7 semanas e que marcava a época da colheita do trigo; a Festa das Tendas, da Colheita ou dos Tabernáculos, que era realizada no outono e que celebrava a colheita de uvas e de azeitonas. Em cada uma, algo era oferecido a Deus, com um determinado objetivo (o sacrifício de um animal, para purificação; a entrega de cereais, como agradecimento pela colheita...). Assim, fica fácil entender que essas festas faziam parte da cultura do povo hebreu e por isso, tinham tanto destaque. 
     Particularmente, como não sou judeu, não tenho que comemorar nenhuma dessas festas, mas muitos pseudo-cristãos insistem na “história” das primícias, citando vários trechos do Antigo Testamento:

- Gênesis 4:3,4 (Deus não teria recebido a oferta de Caim por não ser a primeira parte dos frutos).
     A bíblia não relata o motivo da rejeição da oferta de Caim, o que dá margem para inúmeras interpretações. Obviamente, não faltaria a opinião de que foi rejeitada por não ser
o primeiro fruto da terra. Porém não é o que o texto diz. Pelo contrário, a palavra “também” (“E Abel também trouxe dos primogênitos das suas ovelhas”) sugere que ambos levaram as primícias do que produziram. Sendo assim, o motivo da não aceitação da oferta deve ter sido outro. Em I João 3:11,12 lemos: “[Caim]...era do maligno”, e ainda: “as suas obras eram más”. Aqui temos uma “dica” importante: Caim tinha um coração corrompido, mau, e isso refletia em suas obras. Como Deus aceitaria uma oferta de alguém nessa situação? Impossível! Mas, de qualquer forma, pelo fato de estarmos na Graça, essa discussão não é relevante para o nosso assunto.

- Êxodo 23:19 = “As primícias dos primeiros frutos da tua terra trarás à casa do SENHOR teu Deus; não cozerás o cabrito no leite de sua mãe.”  
 - Provérbios 3:9,10 = “Honra ao SENHOR com os teus bens, e com a primeira parte de todos os teus ganhos; e se encherão os teus celeiros, e transbordarão de vinho os teus lagares.”
     Não estamos sujeitos à Lei, portanto esses textos jamais devem ser usados para defender ou condenar nossas ações. Na Lei havia promessas materiais; na Graça há promessas espirituais. Porém, para as pessoas que insistem em defender essas normas, por que adotam só o que convém e ignoram os demais versículos? Leiam também o versículo 18 do texto de Êxodo e, se quiserem voltar a oferecer sacrifícios de animais e guardar o sábado, por exemplo, terão toda a liberdade para exigirem também as primícias. 
     O segundo versículo ilustra bem a crença dos hebreus: ao santificarem ao Senhor as primícias, o restante da produção também ficaria santificada. Assim, a benção de Deus seria abundante entre eles. 
     Há inúmeros outros textos que falam das primícias, porém, todos destinados aos israelitas. Não comentarei um por um para não ficar repetitivo, mas listarei alguns:

- Neemias 10:34,35; II Crônicas 31:5; Números 15:17-21; Deuteronômio 18:3-5; Deuteronômio 26:10; Números 18:12; Neemias 13:31.

     Fico abismado quando muitos pastores estufam o peito e afirmam: “as primícias existem também no Novo Testamento, logo, é nosso dever entregá-las”. E citam:

- Romanos 8:23 = “E não só ela, mas nós mesmos, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo.”
     Com todo respeito, acho que Deus “coça a cabeça” quando alguém associa as primícias do Novo Testamento àquela oferta da Antiga Aliança. O Texto é muito claro. São primícias do Espírito! É como se essas primícias fossem uma “palhinha”, uma amostra de toda a Glória que nos espera, citada no versículo 18.

- Romanos 11:16 = “E, se as primícias são santas, também a massa o é; se a raiz é santa, também os ramos o são.”
     Aqui, novamente, não há ensino algum sobre ofertas. Pelo contrário, o ensino (em linguagem metafórica) envolve questões espirituais, mais precisamente, a salvação. Paulo diz que se os judeus, de início (representados pelas primícias, a matéria prima), eram santos, também o eram os gentios (a massa pronta). Há ainda outra comparação, feita pelo apóstolo: os judeus seriam uma oliveira cultivada, que teria ramos tirados (os incrédulos); os gentios seriam uma oliveira silvestre (“brava”), mas enxertada na oliveira boa. Com isso, Paulo passou duas mensagens principais: 1 - Aqueles que aceitassem a mensagem de Jesus posteriormente (gentios) seriam tão santos quanto os que deram ouvidos a essa mensagem muito tempo antes (judeus convertidos); 2 – Os gentios que aceitaram o Evangelho não deveriam vangloriar-se e acharem-se melhores do que os judeus incrédulos, pois o que determinou a salvação deles foi a fé e não, méritos pessoais. Outros textos, como I Coríntios 15:20 Tiago 1:18, dispensam comentários, pois o significado de “primícias” é bem claro e nada tem a ver com ofertas. 
     No período de vigência da lei mosaica (e até mesmo antes dela), a consagração da primeira parte da produção a Deus era uma forma de reconhecer que Ele era o que tinham de mais precioso na vida. Era um exercício de fé e ao mesmo tempo, um “lembrete” a esse povo de coração duro que Deus deve estar sempre em primeiro lugar. Quando Jesus veio ao mundo, deixou esse mesmo ensino (Mateus 6:33), porém, a diferença foi que jamais instituiu uma regra ou um rito para que provássemos isso. O “amar a Deus sobre todas as coisas” está baseado não na Lei (repleta de cerimônias), mas na Graça, que ensina obediência e entrega de frutos espirituais. 
     Alguns alegam que as ofertas voluntárias (essas sim tem apoio no Evangelho) são insuficientes para a manutenção do templo, para as atividades que a igreja mantém e para o sustento dos obreiros. Assim, jamais poderiam ensinar que o dízimo não é válido na atualidade (mesmo com todas as evidências) ou que não existe mais oferta de primícias. Ao contrário, ensinam que devemos contribuir com a maior quantidade possível, colocando dinheiro em todos os envelopes que entregam (cada um é uma oferta diferente) e, dessa forma, receberemos muito mais de Deus. Pois é, muitos rebaixam o Evangelho a isso, o que é lamentável, e inúmeras almas deixam de seguir a Cristo por causa desse “cristianismo às avessas”. Sugiro que seja reduzido o tempo dos programas na TV (afinal, a maior parte deles é pra pedir dinheiro ou para enrolar o povo, passando a mensagem que o indivíduo daquela igreja tem bom emprego, não tem problemas, recebe curas... e o que Jesus mandou pregar, nada!), que não sejam construídos templos luxuosos, que não seja dado fortunas para cantores e para pregadores, que o salário dos pastores não esteja na casa de dezenas de salários mínimos... Posso garantir que, se estas medidas forem tomadas, as ofertas espontâneas dos fiéis serão suficientes e o melhor de tudo: deixaremos de transgredir vários ensinos bíblicos.
     Para finalizar, sobre o tema deste texto, por que não entregamos as primícias dos frutos do espírito (citados em Gálatas 5:22) ao Senhor? Ou melhor, porque não dedicamos a totalidade desses frutos a Ele? Esse seria, com certeza, um ato louvável e que estaria de acordo com a Palavra de Deus. Saiamos de cima do muro, queridos! Ou somos judeus ou somos cristãos! Aceitar a Cristo e ficar preso à Lei não é o que o apóstolo Paulo nos ensinou. 
     Negar-se a aceitar o dízimo e a oferta de primícias não é ser “mão de vaca”, é lutar pelo verdadeiro Evangelho, puro e simples. Alguns dizem que o motivo de alguns não concordarem com isso é o amor ao dinheiro, mas penso justamente o contrário: Quem cobra é que tem amor ao dinheiro! Se pregassem os ensinos de Jesus e dos apóstolos as pessoas teriam convicção de sua fé, veriam que não há ganância por parte das igrejas e dariam suas ofertas com amor, afinal, Deus jamais deixaria Sua obra perecer sem recursos. E lembrem-se, amados, devemos dar ofertas porque recebemos e nunca, para recebermos!


Autor: Wésley de Sousa Câmara

Referências:

A Bíblia Viva
Bíblia Almeida Corrigida Fiel
Bíblia de Jerusalém

COLEMAN, WILLIAM L. Manual dos Tempos e Costumes Bíblicos. Editora Betânia, 1ª Edição, 1991. 
Dicionário de Língua Portuguesa Michaelis
Doutrina da Oferta de Primícias – Debate 93 FM
http://theologizando.blogspot.com/2009/08/dizimos-ofertas-e-primicias-sao-para.html