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ZELO COM ENTENDIMENTO

ZELO COM ENTENDIMENTO

 

código de barras na cabeça de um homem  Pouco menos de 20 anos atrás, surgiu o código de barras para controle de estoques no comércio. Lembro-me que houve um frenesi evangélico classificando-o como a marca da besta. Afinal, sem esta “marca” ninguém poderia comprar ou vender (como a afirmação bíblica em Apocalipse 13.17!), além dele conter três duplas de barras sem números (que, segundo uma estranha interpretação, representariam 666, o próprio número da besta!). Desculpem a franqueza, mas foi uma grande bobagem: o código de barras é uma representação gráfica de números e aqueles três avanços vazios são separadores que representam NADA. Conheço empresas cristãs que iriam à falência porque estavam prestes a se recusar a utilizar o código de barras naquela época. Ou seja: nota máxima em zelo, nota mínima em entendimento.

No Antigo Testamento ocorreu determinada situação onde um grande zelo quase resultou em tragédia por causa da falta de entendimento. Você pode conferir este evendo em Josué 22. Resumo da ópera: as tribos de Rúben, Gade e metade de Manassés receberam sua porção da Terra Prometida do outro lado do rio Jordão. Essas tribos construíram uma cópia do altar que havia junto ao Tabernáculo (que estava em Siló, na porção ocidental de Israel). Ora, a lei proibia a existência de outro local de sacrifícios que não o Tabernáculo. Levantou-se o zelo do restante de Israel, que pegou em armas e partiu para exterminar seus irmãos desviados. Já formados para a batalha, enviaram mensageiros para conversar com os faltosos, recebendo a explicação do que realmente acontecera: as três tribos não haviam construído um altar para sacrifício, mas um monumento para memória de seus descendentes. Queriam apenas garantir que seriam lembrados como parte do povo de Israel, apesar de estarem do outro lado do rio.

A explicação trouxe o entendimento necessário ao zelo de Israel, e a tragédia foi evitada. Ou seja, a extrema preocupação com a exatidão dos mandamentos poderia ter produzido uma tremenda injustiça porque efetivada sem o devido conhecimento dos fatos que se apresentavam.

O que me impressiona é que não estamos longe do procedimento daqueles israelitas. Cada pouco aparece um iluminado a nos revelar os sinais malignos ocultos no mundo, ao qual muitos seguem sem verificar a veracidade de suas afirmações (nestes tempos de internet, então, as teorias conspiratórias se proliferam). O código de barras foi um caso que revelou o quão desinformados nós somos. Alguns anos atrás o senador Pedro Simon (PMDB-RS) propôs a unificação de todos os números (RG, CPF etc) em uma única carteira. A coisa mais prática que se poderia imaginar – mas lá estavam os neuróticos de plantão percebendo a manifestação do Anticristo (evidentemente a proposta do senador emperrou na máquina burocrática brasileira…).

Aí fico me perguntando: o que tem a ver a marca da besta com a tecnologia? Não será este “sinal” vinculado a uma afirmação ideológica com a qual não poderemos partilhar? Para mim, todas estas leituras catastróficas do desenvolvimento tecnológico não estão produzindo um povo vigilante. Estão produzindo um povo neurótico e alarmista. Não um povo zeloso, mas ignorante. E isto é muito ruim, porque o zelo puro pode produzir intolerância. Mas o zelo com entendimento nos leva a agir com sabedoria.

Crônica escrita por André Daniel Reinke