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Igreja nos Lares – Não como método, mas como estil

Igreja nos Lares – Não como método, mas como estil

 

Igreja nos Lares – Não como método, mas como estilo de vida

Por João A. de Souza Filho

Sempre que este tema é apresentado ou discutido, a ideia que vem à mente das pessoas é que reuniões nos lares representam apenas um adendo ou uma estrutura funcional que auxilia a igreja – e aqui me refiro à igreja como organização – em sua missão na Terra. Sim, porque a ideia de templo como local de reunião, seja um galpão, um salão ou uma construção feita especialmente para a reunião, obscurece o valor do lar e arremete-o a um segundo ou terceiro plano.

A tradição cristã legou-nos um conceito de igreja sempre ligado a prédios ou santuários como lugares de encontro do povo e de adoração a Deus. Igreja virou sinônimo de prédio, templo, lugar de adoração. “Vamos nos encontrar às 15 horas em frente à igreja”, quando, na realidade, o ponto de encontro é um prédio em algum lugar da cidade.

Os cristãos e As pessoas que vêm de uma tradição cristã não conseguem conceber uma igreja sem prédios, que se encontra em lares, praças, bosques e praias, porque a mentalidade ocidental inculcou, em nossa cultura, que, para se adorar a Deus ou realmente pertencer a uma igreja (não a um mero “grupo” ou reunião avulsa), é necessário comparecer a um templo ou santuário. Por isso, o entendimento comum considera a igreja nos lares apenas um método a mais na estratégia de evangelização quando, na realidade, é a razão de existência da igreja.

Neste estudo, abordaremos a fundamentação da igreja no lar à luz do Israel do Antigo Testamento, da prática da igreja nos dois primeiros séculos e do lugar que os lares ou as casas tiveram ao longo da história subsequente.

I. A vida religiosa de Israel no Antigo Testamento

A “igreja” do Antigo Testamento era a nação de Israel. Naquele tempo, havia um tabernáculo para acompanhar as jornadas no deserto; após o povo ter entrado na Terra Prometida, o tabernáculo esteve em Gilgal, Betel, Siló – só para citar algumas localidades – e, finalmente, em Gibeom. Posteriormente, foi substituído pelo templo de Salomão em Jerusalém, e é a partir daí que os cristãos enxergam o templo como local de adoração.

De acordo com as instruções de Deus a Moisés, todo o povo deveria ir a Jerusalém para adorar ao Senhor como nação três vezes ao ano. Os encontros no templo para celebrar a Páscoa, o Pentecoste e a Festa dos Tabernáculos destinavam-se mais a manter a unidade religiosa da nação do que servir como meio regular de culto a Deus, porque a vida religiosa de Israel, em sua expressão diária, semanal e mensal, acontecia nas casas ou nas famílias. Jerusalém era apenas um centro de referência religiosa e governamental, já que o culto a Deus, a oração, a leitura da Lei e a guarda dos preceitos eram desenvolvidos nos lares. Portanto, a vida religiosa do povo de Deus, mesmo no tempo da velha aliança, não se restringia a um local, mas se fundamentava no lar de cada israelita.

Mais tarde, as sinagogas – que alguns afirmam ter surgido na época do desterro – constituíam-se em locais de encontros aos sábados para a leitura da Lei e as orações. Havia várias sinagogas numa mesma cidade graças ao esforço benemérito de alguém mais abastado que edificava ou separava um lugar para tal finalidade. Sua utilização, porém, era limitada praticamente ao dia de descanso, o Sábado.

II. A vida religiosa do Novo Testamento nos dias apostólicos

Certos textos bíblicos, quando mal explanados, podem dar uma ideia errada do templo nos dias do Novo Testamento, como se fosse um local usado por todo o povo para adorar a Deus. Exemplo disso é o texto de Atos 2.46: “Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração…”. Muitas pessoas, por terem um conceito errado de templo, acreditam que os primeiros cristãos reuniam-se no templo de Jerusalém e esquecem que, tanto no templo do Antigo quanto do Novo Testamento, só entravam os sacerdotes para realizar os ofícios sagrados. Nem mesmo todo levita ou sacerdote podia entrar ali a menos que estivesse escalado, isto é, que seu turno o obrigasse a entrar no santuário para oferecer os sacrifícios.

O povo ficava sempre do lado de fora, aguardando o sacerdote, que ministrava ao Senhor em favor deles (como se vê em Lucas 1.10). Além disso, o templo era uma espécie de praça central da cidade, porque, ao redor dele, funcionava não apenas a vida religiosa do povo, mas também o comércio, a venda de verduras, peixes e animais para o sacrifício etc. E, como havia pátios especiais para orações, os irmãos da emergente igreja para lá se dirigiam a fim de orar, como vemos no episódio de Atos 3, em que Pedro e João foram ao templo para a oração das 15 horas. A base da vida religiosa, no entanto, continuava fora do templo, nas vilas e cidades de toda a nação.

Deus parece deixar bem claro que o verdadeiro templo é formado de pessoas e não de tijolos. Nos dias de Jeremias, o povo zombava do profeta, dizendo: “Templo do Senhor! Templo do Senhor!”, insinuando que Deus não permitiria que o templo, local de sua habitação, fosse destruído. Jeremias os advertia: “Não confieis em palavras falsas, dizendo: Templo do Senhor, templo do Senhor, templo do Senhor é este” (Jr 7.4). O povo tinha a ideia de que, em tempos de guerra, poderia refugiar-se no templo e dizer: “Estamos salvos” (7.10). Mas Deus lhes tirou toda esperança: “Ide agora ao meu lugar, que estava em Siló, onde, no princípio, fiz habitar o meu nome, e vede o que lhe fiz, por causa da maldade do meu povo de Israel” (v. 12).

Jesus também profetizou (Mt 24.2; Lc 21.20) a destruição do templo de Jerusalém, a qual ocorreu no ano 70 da Era Cristã. Depois que o templo foi totalmente destruído e queimado pela ocupação romana, o povo judeu continuou com sua vida religiosa, porque, na realidade, as famílias tinham uma vida religiosa centrada no lar e não num lugar. Dessa maneira também cresceu a igreja, reunindo-se em casas e locais diversos, às vezes vários grupos de irmãos numa mesma cidade em locais separados, porque a essência da vida cristã não se resumia a um local único, mas aos lares que se encontravam em todo lugar.

Deus não precisa de templos materiais, de locais fixos para ser adorado (lembra-se do que ele disse à mulher samaritana sobre a verdadeira adoração?). O templo de Salomão, na realidade, é uma figura do verdadeiro templo – o conjunto de pessoas que formam o santuário de Deus – e aponta escatologicamente para a igreja, a casa de oração para todos os povos!

Por mais de 300 anos, desde seu início até a época de Constantino, a igreja reunia-se em casas sem precisar de um local chamado de templo ou santuário. As casas eram adaptadas para a reunião da família de Deus.